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3 meses atrás - 22/05/2020

Lives de pagode superam funk e pop com foco na nostalgia e fazem disparar audiência dos artistas

No sentido horário: Raça Nega, Péricles, Alexandre Pires, Thiaguinho, Pixote e Sorriso Maroto, donos das lives de pagodes mais vistas até agora — Foto: Reprodução
No sentido horário: Raça Nega, Péricles, Alexandre Pires, Thiaguinho, Pixote e Sorriso Maroto, donos das lives de pagodes mais vistas até agora — Foto: Reprodução

O clima da roda de samba, a memória afetiva das sucessos românticos, o molejo para lidar com a transmissão ao vivo: tudo isso fez o pagode se encaixar bem na nova paixão brasileira pelas lives.



Que o sertanejo lidera, todo mundo já sabe. Mas quem olha só para os ídolos da sofrência não está vendo uma surpresa pagodeira...
O pagode tem uma moral que as paradas recentes não mostravam. Das 20 lives individuais mais vistas que estão no ar, ele só perde para o sertanejo, e deixa para trás funk, forró, pop e eletrônica.



Disparou a audiência de Raça Negra, Sorriso Maroto, Thiaguinho, Alexandre Pires, Péricles e Pixote. Dilsinho e Ferrugem, que têm mais hits atuais, vêm um pouco atrás. O povo quer ouvir mesmo "as antigas".


Na história da música brasileira, é claro que essa força do pagode não surpreende. Mas no contexto atual, dos hits de streaming, o ritmo tem presença muito mais tímida do que agora, durante as lives.



Sucessos de pagode até aparecem recentemente, mas bem longe do sertanejo, líder absoluto, e do funk, muito presente nos últimos anos. Por isso é uma surpresa esta força nas transmissões.


O G1 falou com ídolos do pagode que explicam o fenômeno duas formas muito diversas: tem a análise técnica do Bruno, do Sorriso Maroto, e a explicação de coração do Anderson, do Molejo.



Bruno Cardoso aponta como trunfo a constância dos pagodeiros no cenário musical, mesmo fora do auge comercial de vinte anos atrás. Quer repertório conhecido e longo? Os grupos de pagode têm.


E os pagodeiros jogam mais em casa no site. O público já se habituou a abrir o YouTube para deixar o pagodinho rolar. Já no Spotify e outros serviços mais recentes, o pagode não circula tanto, diz Bruno.



Mas se o Sorriso Maroto e seus colegas do pagode romântico já iam relativamente bem no YouTube, o resultado positivo virou passeio com as lives de abril.
 


Já Anderson, do Molejo, tem uma explicação excêntrica: "Para o brasileiro, pagode é igual mortadela". Ele explica: a pessoa não vai sair por aí admitindo que ama, mas na hora H, é tudo o que ela quer.



É como uma "confort food", alimento que conforta nas horas difíceis - uma quarentena, por exemplo. Ele ainda exalta o jogo de cintura do pagodeiro para lidar com imprevistos nas lives: o famoso molejo.



"A gente até se prepara, mas quando conta 1, 2, 3, o Molejo lida é com aquilo que dizia Nelson Rodrigues, o Sobrenatural de Almeida. Improvisamos e mudamos o repertório na hora, mas deu certo."


Com essa live, o grupo de Anderson não chegou no top 20 brasileiro, mas aumentou bastante sua minguada audiência dos últimos anos, com transmissão vista por mais de um milhão de pessoas.



Outros que não estão no top 20, mas foram destaques, são Zeca Pagodinho e, na seara do samba e da MPB, Teresa Cristina. Mas a curva de audiência mais impressionante foi a do Raça Negra.


Assim você mata o papai (de nostalgia)
 
O que as lives de pagode mais vistas têm em comum é a nostalgia mesmo. O Sorriso Maroto deixou isso estampado na camisa: o mesmo look verde e branco do primeiro DVD deles, de 2005.


"Acho que a família brasileira em casa está revivendo memórias, buscando coisas pelas quais tem carinho, que trazem sensações boas. Isso é a semente do sucesso da lives como a do Sorriso", ele diz.



Bruno acha que o pagode sai com mais moral da roda de lives. E não só no YouTube. "Acho que as plataformas vão ver que o pagode tem uma fatia de público que não estava detectada."


"Isso mostrou que Sorriso Maroto e um Jorge e Mateus, por exemplo, não são tão diferentes, têm uma fatia de público similar. Mas o sertanejo é um segmento mais aquecido nas plataformas", diz Bruno.



"Isso pode acontecer com o pagode. Basta a gente ter um pouco mais de abertura das outras plataformas. Se a gente conseguir democratizar o mercado, dá para todo mundo ter sua fatia."